terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Direitos das mães são regressão dos direitos das mulheres?

Ontem estava a ler no Público sobre mais uma qualquer conferência sobre a natalidade em Portugal, assunto que muito me interessa uma vez que sou mãe num país contra mães. Pensando eu que ia ler algo que me desse alguma esperança, acabo boquiaberta com as aberrações que neste artigo se dizem. Sim, aberrações!!!!

Então, segunda uma qualquer deputada (ainda por cima mulher), a tal proposta para que as mulheres possam trabalhar, SE quiserem, em part-time no primeiro ano do bebé são uma "regressão dos direitos da mulher".
O QUÊ?????

Então parece que igualdade entre os géneros, segundo as pessoas pagas quantidades absurdas de dinheiro nesta conferência, é dar exatamente os mesmos direitos às mulheres e aos homens e portanto, permitir às mulheres trabalharem que nem escravas a toda a hora e toda a vida. OU SEJA, a solução para estas .... hmm .... pessoas... é que abram mais creches e que estas creches estejam abertas TODO O DIA!

Ora deixem cá ver, igualdade então seria a mulher trabalhar toda a gravidez independentemente dos problemas que possa ter ou do trabalho que faça. Isto lembra-me aquela grávida que foi despedida da Amazon por não poder carregar caixas pesadas e portanto não podia fazer o seu trabalhado, tornando este despedimento justificado. Portanto, toca a acartar caixas de 20kg até ao minuto do parto, momento em que, discretamente, a mulher poderá dirigir-se a um local privado ou, se o patrão for bonzinho, ir até ao hospital mais próximo, ter a criança e ficar em casa 5 dias (afinal de contas é este o número de dias concedidos aos pais não é?) e depois colocar a criança numa creche/fábrica de bebés porque as mulheres têm de ser iguais aos homens e nada de querer ficar em casa a tomar conta do bebé! Onde é que já se viu usar essa desculpa para não se trabalhar?????
As mulheres seriam então altamente medicadas para contrariar tudo aquilo que vem com o parto (a subida de leite e a necessidade instintiva de ficar colada ao bebé) , afinal de contas têm de se tornar homens!

Os bebés são então colocados numa passadeira rolante, onde uma máquina lhes enfia um biberão goela abaixo tenham eles fome ou não, outra máquina lhes muda a fralda e outra lhes enfia uma chupeta à força. E pronto está o bebé tratado. Gostava de saber desenhar porque este cenário ficaria muito bem numa tira de banda desenhada.

E todo o mundo vive feliz para sempre, não é senhoras deputadas???????????

QUE TRISTEZA! Lutar pela igualdade entre os sexos NÃO É dar os mesmos direitos aos homens e às mulheres mas sim dar-lhes os direitos que lhes permitirão ter as MESMAS OPORTUNIDADES.
Uma mulher grávida não trabalha como um homem ou como uma mulher não grávida. E não me venham cá com "a gravidez não é doença"ou volto à história da Amazon.
Gravidez não é doença and that goes both sides! Ou seja, não pode ser usado por grávidas saudáveis para deixarem de fazer trabalhos normais mas também não pode ser usado pelos patrões para despedirem ou fazerem as grávidas trabalharem 3 vezes mais que qualquer outra pessoas só para provarem que a gravidez não as afeta.

Ao mesmo tempo, por que é que estão a proteger tanto os patrões e as mulheres enquanto trabalhadoras mas não protegem as mulheres enquanto mães e os bebés?????

Porquê esta certeza absoluta de que a única maneira de aumentar a natalidade em Portugal é oferecer uma creche que trabalhe 24h por dia????? Posso dizer com toda a certeza que muitos dos meus amigos usam como primeiro argumento para não ter filhos "não há tempo". São poucas as pessoas que não querem saber dos filhos e garanto que a maior parte das mães quer ver os filhos a fazer algo mais do que dormir!
As mães devem ter direitos sim como mães e não apenas como trabalhadoras!
Porque quem quer trabalhar deve poder trabalhar mas quem quer criar os filhos também deve ter esta oportunidade! Não defendo que se paguem salários às mães por serem mães (ainda que seriam bem merecidos) mas sim que as mulheres que queiram optar por ser mães e trabalhar menos horas ou ter um horário mais flexível, o possam fazer sem medo de despedimentos ou ameaças e intimações constantes. Porque esta sugestão de permitir às mães poderem trabalhar part-time no primeiro ano NÃO É OBRIGATÓRIA! E quem acha que é uma regressão, então que continue a trabalhar full time. Mas quem quer ser mãe deve ter o direito de o poder ser!!! E de estar protegida por lei. Assim é que se aumenta a natalidade!

E já agora esta licença de maternidade é VERGONHOSA! 4 ou 5 meses ??? Se forem 5 nem são pagos a 100%. O 6º pode ser tirado pelo pai???? Eu gosto muitos dos pais mas no primeiro ano de vida não há pai que substitua uma mãe sobretudo uma mãe que ainda amamente em exclusivo (que é precisamente o recomendado até aos 6 meses e, que eu sabia, ou pais ainda "não têm" mamas). Mas quem é que inventou isto??? Eu até aceitaria um 6º mês em que pudesse ficar o pai OU a mãe. Aí está, para os bebés que não mamam em exclusivo e cujas mães quisessem mesmo voltar a trabalhar (e não para as que são intimadas pelos patrões) .
Mas mesmo assim. Meio ano não é nada!!!!! O meu marido é esloveno e na Eslovénia a licença é de 12 meses!!!! E vai aumentando com cada filho! Por cada filho também se recebe um prémio e no primeiro ano após voltar ao trabalho, é permitido trabalhar só 4 horas por dia !  Isto para não falar nas ajudas na compra de carros, benifícios fiscais, etc.
Conclusão: quase toda a gente tem dois filhos ou mais. E não falamos de um país subdesenvolvido nem "de leste".

Ontem vi um carrinho de gémeos e o meu marido logo me disse: "Na Eslovénia tinhas direito a tudo e mais alguma coisa se tivesses gémeos." Eu respondi-lhe "Em Portugal, qualquer dia vai-se preso!".

Um dia destes meto-me na política. Ou não, o meu marido diz que a máfia (aka lobbies, aka grupos de cidadãos importantes preocupados), não me deixava durar dois dias.

I rest my case.

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